Arquivos do Blog

Lula diz na Alemanha que pedido de impeachment de Dilma é “tentativa de golpe explícito”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta sexta-feira (11), em Madrid, do fórum “O desafio dos emergentes”, organizado pelo jornal espanhol El Pais e voltou a defender a presidente Dilma Rousseff.

“Não há base legal ou jurídica para o impeachment de Dilma. Trata-se de um ataque moral à democracia”, afirmou Lula.

Segundo ele, a chefe de Estado é “uma pessoa de muito caráter e muito decente”. O ex-presidente também afirmou que o processo de impeachment “não chegará a lugar nenhum”. Lula disse que a “crise conjuntural demorou mais tempo do que deveria”, mas destacou que a “crise política atrasou a adoção das reformas necessárias”.O ex-presidente acredita que o pedido do processo de impeachment, classificada por ele como uma tentativa desesperada do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está provocando uma imagem pior da economia brasileira nos últimos 10 anos do que a real.

Participando junto com Lula do fórum, o ex-presidente da Espanha, Felipe González, pediu aos empresários espanhóis para que ajudem na recuperação da economia brasileira.

“Os empresários espanhóis tem que aproveitar esse momento de dificuldade para ajudar e investir no Brasil e na América Latina. Porque as perspectivas a médio prazo são mais consistentes do que na velha Europa”, afirmou González.

http://br.sputniknews.com/brasil/20151211/3041395/Lula-defender-Dilma-Espanha.html#ixzz3u7dHajfU

Guerra nas redes e nas ruas

Luciano Siqueira *

Logo cedo, ouço no rádio uma bateria de “analistas” e personalidades várias (incluindo o próprio advogado Miguel Reale Junior, um dos subscritores do pedido de impeachment), todos em trincheiras da ultra-direita, cuidando do “clima” que desejam favorável ao golpe.

Sinais da dimensão da guerra agora instaurada, pondo em causa a preservação da democracia e a continuidade das transformações operadas no País desde 2003.

Guerra é a expressão mais adequada para traduzir o novo patamar do conflito político, envolvendo interesses de classe bem definidos.

Guerra de muitas trincheiras: no Judiciário, no Parlamento e nas ruas.

Nas ruas e nas redes. Nunca foi tão preciso esse chamamento à militância e a todos os que se batem pela democracia e pelo progresso: lutemos nas ruas e nas redes!

Que cada um ocupe seu posto.

Que se peleje nas redes sociais com argumentos consistentes, em linguagem clara e compreensível, evitando provocações. Para convencer, mobilizar.

Ataques devem ser rechaçados com firmeza; provocações devem ser postas de lado, na lata do lixo.

A trincheira das redes sociais há de se conectar com as ruas.

O atual Congresso Nacional, de maioria conservadora – sobretudo a Câmara – e pusilânime, mostra-se muito vulnerável à pressão da mídia hegemônica reacionária e à algazarra da direita.

Tal como em batalhas marcantes de nossa história recente, a pressão popular há que tomar as ruas mediante pequenas, médias e grandes manifestações. Todas as formas são válidas.

O deputado Eduardo Cunha dá provimento ao pedido de impeachment num instante em que se vê desmoralizado pelo charco de corrupção em que é pilhado. Reage em desespero contra o risco da perda do mandato e de ir para a cadeia.

Age quando o governo conquista importante vitória na votação das metas fiscais.

Agora terá novamente a seu lado a oposição que recentemente passara a execrá-lo.

Tudo isso é verdade e pode ser corretamente explorado por nossas forças.

Mas há dois pontos a considerar, desde já. A verborréia direitista já insinua que a queda dupla de Cunha e Dilma poderia ser a fórmula da “pacificação” nacional. Veneno puro. Inaceitável!

O outro ponto: os que até agora não haviam se unido, poderão se unificar em torno da resistência ao impeachment: partidos, lideranças políticas, movimentos sociais, personalidades, religiosos, empresários progressistas.

A resistência terá êxito se plasmada através de uma frente a mais ampla possível. Para repercutir a voz das ruas e pressionar o Parlamento.

Uma frente que dialogue com o governo em torno de propostas pós-ajuste fiscal e, assim, pactue a agenda do desenvolvimento.

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

* Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB

“Jovens, façam política”

Por: Darío Pignotti, enviado especial a Medellín

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

No discurso de Lula em Medellín, na noite da terça-feira (10/11), já não havia mais lugares disponíveis no auditório da Praça Maior. As centenas de jovens universitários que não puderam ingressar acompanharam sua participação em telas gigantes instaladas em um anfiteatro, numa suave noite da cidade encravada entre serras de vegetação espessa.

“Vejam o que está ocorrendo na América Latina, na América do Sul, estamos sentindo um certo cheiro de retrocesso, porque tem muita gente que não aceita as políticas que permitem a ascensão social, muita gente incomodada porque a filha da empregada doméstica se formou em medicina (…) essas coisas incomodam as elites da Argentina, do Uruguai, do Chile, de vários países sul-americanos. No Brasil, os aeroportos estão cheios, e há pessoas indignadas porque dizem que eles agora parecem rodoviárias”.

O ex-mandatário brasileiro deu seu discurso na abertura da Conferência anual do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), numa cerimônia encabeçada pelo diretor-geral da entidade, o doutor Pablo Gentili.

“Jovens, façam política”

Em seu discurso, Lula pediu aos jovens colombianos que não se deixem seduzir pela ladainha dos meios de comunicação que estimulam a despolitização e a ojeriza às ações coletivas, como as organizações sociais e sindicais. “Queridos rapazes e garotas, não acreditem nas bobagens que a imprensa diz sobre o nosso continente. A maior oposição aos governos progressistas hoje é a imprensa do nosso continente. Essa imprensa fomenta a despolitização, e o que vocês devem fazer é rejeitar isso, não cair na conversa da negação da política. Quando nos negamos a fazer política deixamos que outros façam, e o que vem depois é muito pior. Tenham cuidado com os que falam contra a política. Não existe nenhuma saída fora da política”.

“Quando nenhum político servir para nada, quando houver desconfiança em todos os políticos, ainda restará uma oportunidade, a oportunidade de vocês ingressarem na política, porque vocês, com 20 e 25 anos, são os que governarão amanhã. A desgraça de quem não gosta da política é que será governado por quem gosta de fazer política”.

“Mujica está com 80 anos e eu com 70, somos parte do século passado, vocês são o Século XXI. Por favor, tenham coragem, sejam perseverantes, assumam o controle dos partidos, dos movimentos sociais, voltemos à paixão dos Anos 60”.

“Se um ex-preso político como Mujica chegou à presidência, se um operário como eu chegou à presidência, se um índio como Evo chegou. Então, façam essa pergunta: por que vocês mesmos não podem chegar?”, apontou o líder brasileiro, e os jovens responderam com um sonoro “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula…”.

No auditório, havia centenas de intelectuais latino-americanos, entre eles, alguns que foram premiados ontem por sua contribuição com o pensamento crítico, como os economistas Theotônio dos Santos, brasileiro, e Aldo Ferrer, argentino.

“Devemos ter paixão pela América do Sul, paixão pela integração, a mesma paixão que os nossos libertadores tiveram no Século XIX. A integração não é somente comercial, a integração necessita da participação da sociedade, de mais confiança uns nos outros, de combater o clima de desconfiança”, enfatizou Lula.

E mencionou os subsídios da intelectualidade de esquerda na formulação dos programas do PT, nos quatro governos do partido no Brasil.

Tradução: Victor Farinelli

Lula e Mujica recebidos como heróis na Colômbia

Convidados pela CLACSO, Lula e Mujica chegam a Medellín para dizer que a América Latina apoia a paz, o que é muito importante para toda a região


Por Darío Pignotti, enviado especial a Medellín

Agência PT de notícias

“Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica são dois mitos na Colômbia, são dois heróis”, conta o secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), Pablo Gentili, para explicar a importância de presença dos ex-mandatários no congresso do mais importante “tanque de pensamento” da região, que se inicia amanhã, em Medellín em momentos cruciais para o processo de paz entre a guerrilha e o governo.

“A popularidade de Lula entre os colombianos é muito alta, muitos estão a favor de Lula porque conhecem sua história de vida, desde que era um operário metalúrgico e dirigente sindical, além de fundador do PT. Nas campanhas eleitorais, os candidatos colombianos usam Lula com exemplo, para conseguir votos. Os colombianos também adoram Mujica, o respeitam por sua vida digna, sua história de luta, sua atitude coerente contra o consumismo. Mujica nos demonstra como um homem que esteve na luta armada – e ficou preso durante treze anos pela ditadura uruguaia – depois optou pela política partidária, se transformando num grande líder, algo que pode acontecer com os guerrilheiros colombianos das FARC quando se inicie a etapa posterior ao conflito”, conta Gentili em entrevista para a Carta Maior.

“Convidados pela CLACSO, Lula e Mujica chegam a Medellín para dizer que a América Latina apoia a paz, o que é muito importante para toda a região”.

Medellín, Pablo Escobar e James Rodríguez

Em Medellín, o clima passa rapidamente de uma chuva suave ao gostoso sol tropical, e depois volta a chuva suave, um revezamento que mantém no ar um ambiente muito “chévere”, como dizem as pessoas que vivem nos morros que rodeiam esta cidade.

Nesta cidade o líder narco Pablo Escobar Gaviria construiu sua fortaleza, e também o ex-presidente ultradireitista e atual senador Álvaro Uribe – um aliado político dos Estados Unidos, que durante seu mandato tentou e fracassou na tentativa de eliminar militarmente os guerrilheiros que lutam a mais de meio século no país.

“Esta cidade é conhecida em todo o mundo por ser o lugar onde viveu Pablo Escobar, mas Medellín também é a terra do clube Envigado, onde jogou James Rodríguez antes de ser comprado pelo Real Madrid”, diz o garçom de um bar na avenida Nutibara, por onde automobilistas e motociclistas circulam em alta velocidade, sintoma do trânsito violento do centro de uma cidade onde, nos setores periféricos, ainda há zonas controladas pelos paramilitares.

O diretor do CLASCO, Pablo Gentili, destaca o significado político de que Medellín, um histórico reduto da ultradireita, seja visitada por milhares de intelectuais, acadêmicos e dirigentes políticos como o vice-presidente boliviano Álvaro García Linera e o secretário-geral da Unasul, o colombiano Ernesto Samper, ex-presidente do país.

“A América Latina deve se comprometer com a paz na Colômbia, demonstrar que o país está atento às negociações realizadas em Havana”. Gentili confia que o acordo definitivo será assinado em março, como prometeram as duas partes depois da cúpula realizada em setembro, em Cuba, entre o chefe guerrilheiro Timochenko e o presidente Juan Manuel Santos. Aquela reunião foi patrocinada pelo presidente Raúl Castro e abençoada pelo papa Francisco.

“Vemos que houve avanços concretos na Colômbia, permitiram superar travas que pareciam insuperáveis, mas ainda há alguns temas difíceis de resolver. Ainda assim, acho que ano que vem teremos um acordo de paz, a não ser que ocorra uma tragédia inesperada, que pode estar sendo planejada pela ultradireita”, comenta Gentili. “Será preciso enfrentar os obstáculos que a direita colombiana, militarizada e paramilitarizada, colocará no caminho. Não falta vontade de intervir para que a paz fracasse. O uribismo (tendência política ligada a Álvaro Uribe) está trabalhando contra os acordos”.

Independente das ameaças políticas e armadas contra as negociações, o país “está vivendo um momento muito interessante, porque começa a se discutir o que virá na etapa do pós-acordo de paz. A Colômbia deverá enfrentar um longo processo para implementar a paz que está se negociando, necessitará uma arquitetura institucional muito complexa para construir essa paz, e também ideias, que serão discutidas neste congresso do CLACSO”.

Pensamento próprio

O congresso do CLACSO discutirá, a partir de amanhã e até a próxima sexta-feira, temas como a paz e a guerra na Colômbia, o processo de integração, o futuro dos governos progressistas e de esquerda na região, o modelo de desenvolvimento e inclusão social, as relações com os Estados Unidos e a ofensiva conservadora para desestabilizar as experiências pós-neoliberais, entre outros.

“Na América Latina, temos uma grande capacidade de produção acadêmica autônoma, criativa, séria, rigorosa. Temos um pensamento próprio para ver o mundo e impulsionar uma disputa com uma postura politicamente comprometida”, observa Gentili.

Este encontro estará marcado pela batalha das ideias que estão em curso, a que ganhou vigor no início da década passada, em paralelo ao desgaste da dominação unilateral norte-americana.

“Ainda hoje em dia, quem produz a visão do mundo são os países hegemônicos. Diante disso, é preciso valorizar nossa produção intelectual. Nos últimos anos, a América Latina começou a ter intelectuais e profissionais atuando com mais influência em organismos internacionais como a ONU, onde se discutem programas, projetos sobre a desigualdade, a pobreza e o desenvolvimento”, opina Gentili. “Foi durante os governos de Lula, de Néstor Kirchner e de Hugo Chávez que nós começamos a ganhar espaço nesses âmbitos. O CLACSO também cresceu nos últimos anos. Duplicamos o número de instituições associadas e vamos seguir trabalhando nessa estratégia, porque a articulação dos centros de investigação latino-americanos é necessária, como também a articulação dos centros de investigação da África e de outros continentes”.

Futuro

“Espero o futuro de América Latina com preocupação, mas com confiança” afirma Pablo Gentili, para quem o CLACSO é uma usina de pensamento crítico, por onde circulam intelectuais com compromisso político, dentro de um espaço de grande diversidade.

Pensando neste encontro de Medellín, ele diz não esperar por consensos unânimes sobre o futuro da América Latina, que prevê muitos debates e divergências, e que não se surpreenderá se as posturas, mesmo dentro do campo progressista, estiverem bastante distanciadas.

“Um tema que vai provocar debates duros é o do modelo desenvolvimento atual na região, o meio ambiente e a mineração. O problema não é ter um diagnóstico de consenso sobre os rumos da América Latina, mas sim ter claro que não podemos retroceder ao neoliberalismo dos Anos 90”.

Gentili recorda o fato de que a reunião de Medellín se realiza exatos dez anos depois da histórica Cúpula das Américas, onde Lula, Kirchner e Chávez frearam o projeto da ALCA, a área de livre comércio que os Estados Unidos queria impor ao continente.

“O `Não à ALCA´ foi uma demonstração concreta da integração. Os presidentes disseram aos Estados Unidos `aqui estamos´, a partir dali, os países se uniram, avançaram, definiram uma agenda com vários temas, que incluiu até mesmo um programa educativo em comum. Se acompanhamos estes dez anos posteriores àquela cúpula, se vemos a evolução dos nossos debates, podemos entender a transformação ocorrida na realidade regional”.

“Em 2005, houve um golpe de esperança. Nessa época, os governos populares e de esquerda não tinham grandes conquistas para exibir, ainda não havia resultados sociais, mas havia a vontade de construir um futuro”.

Tradução: Victor Farinelli

Lula e 2018

O ex-presidente reafirma: pode ser novamente candidato à Presidência
Lula

Ricardo Stuckert/IL

Na conversa com Kennedy Alencar, do SBT

Na conversa, dividida em dois blocos, Lula disse não temer ser preso pela Operação Lava Jato, exaltou a autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal, garantidas durante a sua gestão e ao longo da administração de Dilma Rousseff, e afirmou que a população sabe distinguir os fatos dos boatos e calúnias.

O ex-presidente criticou as desonerações de impostos concedidas durante o primeiro mandato de sua sucessora. Segundo ele, o objetivo de manter o desemprego baixo foi alcançado até o fim de 2014, mas o governo não conseguiu perceber o impacto sobre a arrecadação. E agora não tem alternativa a não ser o ajuste.

Lula também disse considerar um erro o represamento dos reajustes da gasolina ao longo dos últimos anos por causa dos prejuízos ao caixa da Petrobras e dos impactos recentes sobre a inflação após a liberação dos aumentos neste ano. Para recuperar a economia, propôs um choque de crédito.

No fim da entrevista, Lula dedicou algumas palavras a Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, o tucano demonstra “soberba” e tem inveja de seu sucesso. “O Fernando Henrique achou que eu faria um péssimo governo e ele voltaria nos braços do povo. Mas meu governo foi aplaudido no mundo inteiro por ter incluído milhões de brasileiros.”

Lula
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
http://www.cartacapital.com.br/revista/875/lula-e-2018-6951.html

Jornalista treme na base após entrevista de Lula


sbt

Quem esperava um Lula acuado na entrevista que concedeu ao jornalista Kennedy Alencar nesta quinta-feira no SBT, deve ter tomado um susto.

Sereno e bem-humorado, o ex-presidente articulou bem as palavras, mostrou – com convicção flagrante – indignação com as acusações que lhe são feitas e, de quebra, lembrou fatos que o distinto público não está acostumado a ver.

sbt 2

A dupla de apresentadores do Jornal do SBT (Sheherazade e um outro de quem ninguém lembra o nome), no intervalo entre a primeira e a segunda partes da entrevista, ainda tentou prejudicá-lo.

A dupla destacou que Lula “Diz que não tem medo de ser preso”, como se sua prisão fosse iminente. Na verdade, tratava-se de resposta do ex-presidente a alusão do entrevistador a declaração do seu ex-chefe de gabinente, Gilberto Carvalho, de que pretendem “prendê-lo” para impedir que se candidate em 2018.

Lula fez o que melhor sabe, mostrou emoção e indignação diante da enormidade de tal hipótese. Mas melhor ainda foi a tranquilidade que demonstrou ante a artilharia do entrevistador.

sbt 1

Perguntado pelo entrevistador se poderia ser candidato em 2018 só para barrar a volta da “oposição” ao poder, matou a pau ao responder que só será candidato se tudo que construiu em seu governo estiver em risco.

Se Lula nunca tivesse governado o país, essa fala não teria tanto sentido. Mas com o recall que sua imagem no vídeo provocou – lembrança de como as pessoas melhoraram de vida durante seus dois mandatos -, a frase tem uma significação imensa para o público do SBT, composto, majoritariamente, pelas classes C e D.

Perguntado se não teria que saber de tudo que se passava em seu governo, recorreu às metáforas que o tornaram o presidente mais bem avaliado da história brasileira em um final de mandato: “Quantas vezes, Kennedy, você não sabe nem o que os seus filhos estão fazendo dentro da sua casa”.

Perfeito. Esse tipo de metáfora fala mais ao homem da multidão do que qualquer discurso empolado.

Perguntado sobre o volume de casos de corrupção no Brasil que vem sendo revelado, lembrou que tudo isso só está vindo a público porque hoje, ao contrário do que acontecia antes, tudo é investigado, doa a quem doer.

Por fim, confrontado com declarações desairosas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre si, vale mais traduzir o que ele deixou transparecer na resposta do que suas palavras literais. Em síntese, disse ao público que FHC o ataca porque tem inveja de ele ter terminado seu mandato com 80% de aprovação enquanto que o tucano terminou seu governo ao rés do chão.

Qualquer um poderia ter dado as respostas que Lula deu. Todos os que acompanham política sabiam o que seria perguntado e o que ele responderia. O importante, porém, não é o que foi dito pelo ex-presidente, mas a forma como foi dito e por quem foi dito.

Ainda que a direita midiática ache que é possível simplesmente fazer sumir da cabeça das pessoas o que representaram os oito anos de governo Lula para a esmagadora maioria dos brasileiros, isso é impossível. O povo pode ter memória curta, mas não é retardado.

Ao fim da entrevista, ressurge a dupla de apresentadores. Ambos lívidos, desconcertados, vendo que o Lula que tinham acabado de ouvir definitivamente não era o que esperavam.

A cara de abatimento de Sheherazade, ao anunciar as notícias do próximo bloco do telejornal após o fim da entrevista de Lula, disse tudo.

Dez anos depois da Alca: os novos desafios da América Latina

Há dez anos a América Latina vencia uma de suas maiores batalhas contra a dominação imperialista no continente ao derrubar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). O processo se deu com grandes mobilizações dos movimentos sociais e partidos de esquerda e foi consolidado durante a 4ª Cúpula das Américas, realizada entre os dias 4 e 5 de novembro de 2005 em Mar del Plata, na Argentina, quando os presidentes Lula, Hugo Chávez e Néstor Kirchner decretaram o fim da Alca.

Por Mariana Serafini

Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Lula quando decretaram o fim da Alca, durante a Cúpula das Américas

Na época a América Latina dava os primeiros passos rumo à soberania do continente. O então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, havia sido eleito quase dez anos antes, e inaugurou uma nova fase política que trouxe uma leva de governos progressistas, entre eles Lula e Néstor, além de Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e Daniel Ortega na Nicarágua.

O fim da Alca representou um novo período para o povo latino-americano. Mecanismos de integração política e social foram fortalecidos e criados, entre eles o Mercosul, que mais tarde foi expandido com o ingresso da Venezuela; a Alba (Aliança Bolivariana Para os Povos da Nossa América), a Unasul (União das Nações Sul Americanas) e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Enquanto a Alca representava a consolidação dos poderes econômico dos grandes grupos multinacionais e a transformação do continente em um mercado sem regulações; a Alba vai na contramão da proposta norte-americana e fomenta a liberdade dos povos, a redistribuição de renda, a ampliação do acesso dos mais pobres, a redução das desigualdades e a mudança do modelo econômico produtivo a fim de promover a inclusão social dos “invisíveis” citados por Hugo Chávez.

A Alba, criada em 2004 com o impulso de Cuba e da Venezuela, abriu caminho para uma nova forma de intercâmbio regional cujo foco é a liberdade dos povos, a soberania e a igualdade. Durante este novo período a América Latina logrou feitos importantes, como a retirada de 70 milhões de pessoas da extrema pobreza, destas, mais da metade é composta por brasileiros.


Néstor Kirchner, Evo Morales, Lula e Chávez durante a Cúpula das Américas em 2008 | Foto: AP

Os governos progressistas de Lula, Evo, Néstor, Chávez, Correa e Ortega foram fundamentais para tirar o continente do rumo neoliberal que afundou a economia de muitos países durante os anos 1990, entre eles o Brasil e a Argentina.

Se Fernando Henrique no Brasil e Carlos Menem na Argentina privatizaram estatais e quebraram a economia de seus países, recorrendo diversas vezes aos empréstimos do FMI, Lula e Néstor saíram deste eixo, fortaleceram a soberania nacional e pagaram as dívidas externas. No país vizinho o governo conseguiu ainda renacionalizar empresas importantes como a YPF, de petróleo, e as Aerolineas Argentinas, entre outras.

A criação do Banco da Alba, em 2008, foi mais um passo importante para consolidar a soberania e a independência financeira dos países membros. Ações como esta permitiram que mais de dois milhões de latino-americanos e caribenhos hoje tenham acesso à saúde e educação públicas.
Os programas de alfabetização desenvolvidos no continente fizeram com que a Unesco declarasse Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua territórios livres do analfabetismo. Ao passo que o projeto educacional desenvolvido na ilha comunista, Yo Sí Puedo, já alfabetizou mais de 10 milhões de pessoas, um terço destas nos países latinos e caribenhos.

Desafios para continuar no rumo do desenvolvimento social

Passados dez anos, a postura dos países latinos frente à geopolítica mundial é outra, hoje com mais peso e importância. As relações comerciais com a China e países do Oriente Médio foram fortalecidas, ao passo que se reduziu a dependência econômica dos Estados Unidos e da União Europeia. Não à toa a crise econômica que atingiu os países do Norte em 2008 e hoje já traz efeitos desastrosos, chegou com menos intensidade no continente latino-americano.

No entanto, a contraofensiva da direita é constante e cada vez mais intensa. A Venezuela resiste a duras penas às tentativas de desestabilização promovidas pela elite local com apoio norte-americano. O interesse do mercado estrangeiro no petróleo do país é nítido, o mesmo acontece na Argentina, que sofre ainda com a questão dos fundos abutres, bravamente enfrentada pela presidenta Cristina Kirchner.


Dilma, Maduro e Cristina representam a continuidade dos governos progressistas | Foto: AFP

No Equador a tentativa de golpe foi aos “moldes dos anos 60”, quando em 2010 o presidente Rafael Correa sofreu um atentado seguido de tentativa de assassinato e sequestro. Recentemente a onda desestabilizadora atingiu também o Brasil e vem tentando derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff, desde que o povo brasileiro conquistou a quarta vitória popular nas urnas, em outubro do ano passado.

O desafio destes países é garantir a constitucionalidade governamental sem sair do rumo do desenvolvimento e da inclusão social. A “Pátria Grande” sonhada por Simón Bolívar é o norte dos países do Sul e a alavanca que fomenta a luta por soberania e independência iniciada em meados dos anos 1990 por Hugo Chávez. As ameaças golpistas e fortalecimento dos partidos da direita representam o retorno do neoliberalismo que deixou marcas profundas de atraso e retrocesso no continente.

LULA VAI À JUSTIÇA CONTRA CAPA “GROTESCA” DE VEJA

Featured image

O ex-presidente Lula foi à Justiça contra a revista Veja nesta terça-feira 3, após a publicação, no último fim de semana, de uma capa ofensiva que trazia o petista com roupa de presidiário. Em nota, a assessoria de imprensa do Instituto Lula definiu a capa como “uma montagem mentirosa, ofensiva e grotesca” do ex-presidente.

A nota destaca que Lula não é alvo de nenhuma ação penal em curso no País, ao contrário da própria revista, que “sofre inúmeros processos”. A ação por danos morais protocolada pelos advogados classifica de “sórdida mentira” a reportagem de capa da publicação, além de “evidente manipulação e falta de critério jornalístico” em seu conteúdo.

A capa que mostrou a perda da compostura de Veja em seu ataque sem pudor a Lula gerou polêmica. Para o cientista social Robson Sávio Reis Souza, a publicação de Veja deixou de ser fascista para virar nazista. No entendimento do jornalista Fernando Brito, do Tijolaço, a revista deveria ser apreendida pela Justiça.

Leia abaixo a íntegra da nota. E acesse aqui a ação apresentada pelos advogados do ex-presidente.

NOTA À IMPRENSA
VEJA calunia Lula mais uma vez e ex-presidente vai à Justiça

Advogados de Lula protocolam ação de reparação por danos morais devido a montagem grosseira da capa da revista

São Paulo, 4 de novembro de 2015,

Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva protocolaram, nesta terça-feira (3), primeiro dia útil após o fim-de-semana, ação de reparação por danos morais contra a editora Abril, responsável pela revista Veja, no Foro Regional de Pinheiros. A edição de nº 2450 da publicação, que foi às bancas na última semana, exibe na capa uma montagem mentirosa, ofensiva e grotesca do rosto de Lula sobre corpo vestido com uniforme de presidiário estampado com nomes de envolvidos em investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

Não há nenhuma ação penal em curso no país contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao contrário do que a capa faz parecer. Já a revista Veja sofre inúmeros processos pelas mentiras publicadas contra diversos pessoas e organizações, não apenas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Recentemente, por exemplo, o senador Romário (PSB-RJ) anunciou processo contra o semanário.

“A imagem que a capa da revista VEJA pretendeu sugerir aos seus leitores e à sociedade em geral, portanto, não possui qualquer lastro na realidade fática ou jurídica. Independentemente das afirmações e críticas contidas no interior da própria revista — sempre com evidente manipulação e falta de critério jornalístico —, não poderia ela estampar em uma capa uma imagem falsa e ofensiva, como se verifica no vertente caso”, diz o texto da ação, que classifica de “sórdida mentira” a reportagem de capa da revista.

O texto destaca ainda que a exibição da imagem não se deu apenas nas bancas de revistas, mas também em pontos de publicidade espalhados pelo país, reafirmando a intenção da revista de denegrir a honra e a imagem de Lula.

“Note-se, ainda, que no vertente caso não se está diante de qualquer situação que possa ser enquadrada como direito de crítica ou, ainda, a configurar mero animus narrandi. Simplesmente porque, insista-se, não há qualquer situação jurídica que possa permitir que a Ré [editora Abril] possa difundir à sociedade uma imagem do Autor vestindo trajes peculiares àqueles que foram condenados pela Justiça e estão cumprindo pena privativa de liberdade”, conclui a ação.

Os advogados do ex-presidente já entraram com outras duas queixas-crime, uma interpelação criminal e uma ação de indenização contra jornalistas da revista, além de queixa-crime específica contra a apresentadora da TVeja, Joice Hasselman, por conta da prática recorrente da revista de atentar contra a honra do ex-presidente.

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/203761/Lula-vai-%C3%A0-Justi%C3%A7a-contra-capa-%E2%80%9Cgrotesca%E2%80%9D-de-Veja.htm

Alca: quando a América Latina encerrou a solidão de um século

Em 2003 Joseph Stiglitz escreveu um artigo muito contundente: “façam o que nós fazemos, não o que nós decidimos que façam”. Os Estados Unidos prosperaram defendendo seu mercado, sua indústria e seu campo. Tem, além disso, a moeda que desde 1973 representa o câmbio mundial. O leão pediu às gazelas que não corram e não busquem refúgio em territórios diáfanos.

Néstor Kirchner, Lula e Hugo Chávez, então presidentes da Argentina, Brasil e Venezuela, celebram o fim da Alca
Por: Juan Carlos Monedero
Néstor Kirchner, Lula e Hugo Chávez, então presidentes da Argentina, Brasil e Venezuela, celebram o fim da Alca

Os Estados Unidos marcou, a partir desta data, onde certificaram a morte do “keynesianismo”, o principal programa do neoliberalismo: privatizações de empresas e serviços públicos, desregulação (especialmente financeira e trabalhista) e abertura de fronteiras para mercadorias, serviços e dinheiro. Não para as pessoas, que só circulariam livremente quando fosse necessário aumentar a oferta de trabalhadores para baixar os salários (o tal exército de reserva sobre o qual falou o barbudo de Tréveris).

Sabemos nós, os seres humanos, que os filhos precisam de cuidados para crescer. Os protegemos dos predadores, os aconselhamos a desconfiar das pessoas que apresentam mau comportamento, lutamos para que não percam a saúde trabalhando como se fossem adultos e os estimulamos que possam estudar e aprender para logo serem capazes de se defenderem sozinhos. O capitalismo de Estado social e de desenvolvimento deu lugar aos âmbitos de Estado nacional. A globalização, confundida muitas vezes com uma sorte do ‘neoimperialismo’, se encarregou de fazer mudar os Estados e convertê-los em ferramentas ao serviço do aumento da taxa de lucro de empresas e um marco de competitividade mundial muito devastador. Não em vão nos últimos trinta anos, uma parte substancial das riquezas dos trabalhadores passou para as mãos de 1% da população mais rica do planeta. Um espanhol, Amancio Ortega, é dono de US$72 milhões, Bill Gates tem mais outro tanto. Menos de cem pessoas têm tanta riqueza quanto metade da humanidade. O modelo neoliberal de mercados abertos gerou as maiores desigualdades que já conhecemos na história. Não é sensato que alguém pare este disparate?

Ocorreu em Marl del Plata, na Argentina, em novembro de 2005 a 3ª Cúpula das Américas. À época, o presidente venezuelano Hugo Chávez, que havia sido eleito em 1999, sabia com clareza de três coisas: primeiro que as políticas de ajuste e exclusão do FMI e do Banco Mundial deviam terminar para serem substituídas por políticas de inclusão social (recuperação cidadã dos invisíveis através de processos de registro, programas de alfabetização e escolarização, programas de resgate cidadão em alimentação, saúde e moradia). Em segundo lugar, que a democracia era impossível de ser recuperada em um só país. E em terceiro lugar, que a única maneira de sair do espiral de subdesenvolvimento era encontrar alianças regionais que terminariam com a política norte-americana que considera a América Latina seu pátio dos fundos.

O Panamá e o México foram os porta-vozes de um modelo econômico norte-americano que buscava criar um mercado aberto e desregulado em todo o continente. Completamente oposto ao Mercosul, a Venezuela e uma nova América Latina que estava a caminho de criar a Unasul, onde os Estados Unidos perderiam espaço neocolonial que havia conquistado com a OEA.

O presidente George W. Bush saía com o rabo entre as pernas: os povos da América Latina estavam buscando relações de igual para igual que não poderiam ser alcançadas com a dependência causada pelos tratados de livre comércio estabelecidos até então com o vizinho do Norte. Lula disse que todos deveriam se afastar. O mesmo afirmaram o anfitrião Néstor Kirchner, os presidentes Evo Morales e Rafael Correa e a população que havia sido convidada para uma discussão paralela durante o encontro de líderes.

Novembro é o período de chuvas na Argentina, a declaração final da 2ª Cúpula dos Povos da América (conhecida como Contracúpula) foi contundente: “as negociações para criar uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca) devem ser suspensas imediata e definitivamente”. Cháves havia advertido: “os líderes vão de cúpula em cúpula e os povos vão de vale em vale”.

Depois da derrota da Alca começou a amanhecer. A América Latina começou a se desconectar dos centros financeiros tóxicos da globalização neoliberal. Abriu vias para capitalizar os próprios recursos econômicos e colocar em marcha processos de redistribuição de riqueza que tiraram mais de 70 milhões de pessoas da pobreza no continente. Se mergulhou em novas formas de integração regional e se criaram os alicerces para um Banco do Sul. Se forçaram os processos administrativos de gestão dos bens comuns e se entendeu que sem um Estado eficiente não era possível construir uma sociedade realmente democrática. Se recuperou a soberania nacional e os militares latino-americanos redobraram seu compromisso com suas pátrias depois de um século escutando música ingerencista de West Point. Sobretudo, se freou o que havia significado o afundamento do campo latino-americano, que havia sido devastado pelos produtos subsidiados norte-americanos.

Mas frear a Alca não significava resolver todos os problemas. Era condição necessária, mas não suficiente. No capitalismo global é impossível ficar fora dos processos globais de formação de preços, da construção em bolsas mundiais e da demanda e oferta, do desenvolvimento tecnológico ou da negociação de preços. A América Latina está entrando em outra etapa onde o modelo neoliberal sege fazendo chamados. Os acordos vinculados geograficamente ao Pacífico pretendem compensar o fracasso de uma década atrás para converter o continente num enorme supermercado sem regras salvo as implementadas pelas grandes empresas do monopólio (um mercado imenso nos grandes centros comerciais; outro nas calçadas com ambulantes e comerciantes informais). A agenda pós-neoliberal terminou invadindo a agenda pós-capitalista e o risco de que uma nova agenda diretamente capitalista afogue a agenda pós-neoliberal sempre está aí. Por isso os Estados Unidos não cessas sua pressão desestabilizadora afundando os preços das matérias primas, dando cobertura aos fundos abutres, controlando a OMC, garantindo em tribunais privados as inversões especulativas ou comprando militares ou fiscais.

Os ensinamentos de Mar del Plata seguem sendo válidos para evitar que o continente volte a protagonizar, como nos anos 80 e 90, outra “década perdida”: lideranças corajosas, sem remorsos, patriotas e apoiados em fortes bases populares; insistência nas agendas compartilhadas e permanentemente focadas nas estratégias regionais; reforço de solidariedade regional e alianças firmes frente ao Norte interno e ao Norte americano que, por sua vontade imperialista e neocolonialista, seguirá vendo o resto do continente como seu pátio dos fundos. Os que recuperaram “Nuestra America”, Chávez, Lula, Kirchner, Morales, Correa e os demais líderes da América do Sul fecharam uma parte importante das veias abertas do continente.

EUA agem para derrubar Dilma Rousseff

O artigo BRICS’ Brazil President Next Washington Target  foi nos EUA em novembro de 2014. Mas a sua atualidade faz a gente reproduzir ele aqui.

DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTA DO BRASIL, PAÍS MEMBRO DO GRUPO BRICS, É O PRÓXIMO ALVO DE WASHINGTON 

Publicado no “NEO – New Eastern Outlook”. Escrito por F. William Engdahl, norte-americano, engenheiro (Princeton) e pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo). Transcrito no “Patria Latina” com tradução de Renato Guimarães para a “Vila Vudu” e republicado aqui.

BRICS’ Brazil President Next Washington Target

“O porquê do terceiro turno… 

Para ganhar o segundo turno das eleições contra o candidato apoiado pelos Estados Unidos, Aécio Neves, em 26 outubro de 2014, a presidenta recém-reeleita do Brasil, Dilma Rousseff, sobreviveu a uma campanha maciça de desinformação do Departamento de Estado estadunidense. Não obstante, já está claro que Washington abriu uma nova ofensiva contra um dos líderes chave dos BRICS, o grupo não alinhado de economias emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a campanha de guerra financeira total dos Estados Unidos para enfraquecer a Rússia de Putin e uma série de desestabilizações visando a China, inclusive, uma das mais recentes, a “Revolução dos Guarda-Chuvas” financiada pelos Estados Unidos em Hong Kong, livrar-se da presidente “socialmente propensa” do Brasil é uma prioridade máxima para deter o polo emergente que se opõe ao bloco da Nova (des)Ordem Mundial de Washington.

A razão por que Washington quer se livrar de Rousseff é clara. Como presidente, ela é uma das cinco cabeças do BRICS que assinaram a formação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com capital inicial autorizado de 100 bilhões de dólares e um fundo de reserva de outros 100 bilhões de dólares. Ela também apoia uma nova Moeda de Reserva Internacional para complementar e eventualmente substituir o dólar. No Brasil, ela é apoiada por milhões de brasileiros mais pobres, que foram tirados da pobreza por seus vários programas, especialmente o Bolsa Família, um programa de subsídio econômico para mães e famílias da baixa renda. O Bolsa Família tirou uma população estimada de 36 milhões de famílias da pobreza através das políticas econômicas de Rousseff e de seu partido, algo que incita verdadeiras apoplexias em Wall Street e em Washington.

Apoiado pelos Estados Unidos, seu rival na campanha, Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), serve aos interesses dos magnatas e de seus aliados de Washington.

O principal assessor econômico de Neves, que se tornaria Ministro da Fazenda no caso de uma presidência de Neves, era Armínio Fraga Neto, [cidadão norte-americano e brasileiro] amigo íntimo e ex-sócio de Soros e seu fundo hedge “Quantum”. O principal conselheiro de Neves, e provavelmente seu Ministro das Relações Exteriores, tivesse ele ganhado as eleições, era Rubens Antônio Barbosa, ex-embaixador em Washington e hoje Diretor da ASG em São Paulo.

A ASG é o grupo de consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado norte-americana durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999. Albright, dirigente do principal grupo de reflexão dos Estados Unidos, o “Conselho sobre Relações Exteriores”, também é presidente da primeira ONG da “Revolução Colorida” financiada pelo governo dos Estados Unidos, o “Instituto Democrático Nacional” (NDI). Não é de surpreender que Barbosa tenha conclamado, numa campanha recente, o fortalecimento das relações Brasil-Estados Unidos e a degradação dos fortes laços Brasil-China, desenvolvidos por Rousseff na esteira das revelações sobre a espionagem norte-americana da Agência de Segurança Nacional (NSA) contra Rousseff e o seu governo.

Surgimento de escândalo de corrupção

Durante a áspera campanha eleitoral entre Rousseff e Neves, a oposição de Neves começou a espalhar rumores de que Rousseff, que até então jamais fora ligada à corrupção tão comum na política brasileira, estaria implicada num escândalo envolvendo a gigante estatal do petróleo, a Petrobras. Em setembro, um ex-diretor da Petrobras alegou que membros do governo Rousseff tinham recebido comissões em contratos assinados com a gigante do petróleo, comissões essas que depois teriam sido empregadas para comprar apoio congressional. Rousseff foi membro do conselho de diretores da companhia até 2010.

Em 2 de novembro de 2014, apenas alguns dias depois da vitória arduamente conquistada por Rousseff, a maior firma de auditoria financeira dos Estados Unidos, a “Price Waterhouse Coopers” se recusou a assinar os demonstrativos financeiros do terceiro trimestre da Petrobras. A PWC exigiu uma investigação mais ampla do escândalo envolvendo a companhia petrolífera dirigida pelo Estado.

Líderes dos países BRICS

A Price Waterhouse Coopers é uma das firmas de auditoria, consultoria tributária e societária e de negócios mais eivadas de escândalos nos Estados Unidos. Ela foi implicada em 14 anos de encobrimento de uma fraude no grupo de seguros AIG, o qual estava no coração da crise financeira norte-americana de 2008. E a Câmara dos Lordes britânica criticou a PWC por não chamar atenção para os riscos do modelo de negócios adotado pelo banco “Northern Rock”, causador de um desastre de grandes proporções na crise imobiliária de 2008 na Grã-Bretanha, cliente que teve que ser resgatado pelo governo do Reino Unido.

Intensificam-se os ataques contra Rousseff, disso podemos ter certeza.

A estratégia global de Rousseff

Não foi apenas a aliança de Rousseff com os países dos BRICS que fez dela um alvo principal da política de desestabilização de Washington. Sob seu mandato, o Brasil está agindo com rapidez para baldar a vulnerabilidade à vigilância eletrônica norte-americana da NSA.

Dias após a sua reeleição, a companhia estatal Telebras anunciou planos para a construção de um cabo submarino de telecomunicações por fibra ótica com Portugal através do Atlântico. O planejado cabo da Telebras se estenderá por 5.600 quilômetros, da cidade brasileira de Fortaleza até Portugal. Ele representa uma ruptura maior no âmbito das comunicações transatlânticas sob domínio da tecnologia norte-americana. Notadamente, o presidente da Telebras, Francisco Ziober Filho, disse numa entrevista que o projeto do cabo será desenvolvido e construído sem a participação de nenhuma companhia estadunidense.

As revelações de Snowden sobre a NSA em 2013 elucidaram, entre outras coisas, os vínculos íntimos existentes entre empresas estratégicas chave de tecnologia da informática, como a “Cisco Systems”, a “Microsoft” e outras, e a comunidade norte-americana de inteligência. Ele declarou que:

A questão da integridade e vulnerabilidade de dados é sempre uma preocupação para todas as companhias de telecomunicações”.

O Brasil reagiu aos vazamentos da NSA periciando todos os equipamentos de fabricação estrangeira em seu uso, a fim de obstar vulnerabilidades de segurança e acelerar a evolução do país rumo à autossuficiência tecnológica, segundo o dirigente da Telebras.

Até agora, virtualmente todo tráfego transatlântico de TI encaminhado via costa leste dos Estados Unidos para a Europa e a África representou uma vantagem importante para espionagem de Washington.

Se verdadeiro ou ainda incerto, o fato é que sob Rousseff e seu partido o Brasil está trabalhando para fazer o que ela considera ser o melhor para interesse nacional do Brasil.

A geopolítica do petróleo também é chave

O Brasil também está se livrando do domínio anglo-americano sobre sua exploração de petróleo e de gás. No final de 2007, a Petrobras descobriu o que considerou ser uma nova e enorme bacia de petróleo de alta qualidade na plataforma continental no mar territorial brasileiro da Bacia de Santos. Desde então, a Petrobras perfurou 11 poços de petróleo nessa bacia, todos bem-sucedidos. Somente em Tupi e em Iara, a Petrobras estima que haja entre 8 a 12 bilhões de barris de óleo recuperável, o que pode quase dobrar as reservas brasileiras atuais de petróleo. No total, a plataforma continental do Brasil pode conter mais de 100 bilhões de barris de petróleo, transformando o país numa potência de petróleo e gás de primeira grandeza, algo que a Exxon e a Chevron, as gigantes do petróleo norte-americano, se esforçaram arduamente para controlar.

Em 2009, segundo cabogramas diplomáticos norte-americanos vazados e publicados pelo Wikileaks, a Exxon e a Chevron foram assinaladas pelo consulado estadunidense no Rio de Janeiro por estarem tentando, em vão, alterar a lei proposta pelo mentor e predecessor de Rousseff em seu Partido dos Trabalhadores, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ou Lula, como ele é chamado.[Foi revelado pelo Wikileaks que José Serra, o então candidato do PSDB que competia contra Dilma pela presidência, prometera confidencialmente à Chevron que, se eleito, afastaria a Petrobras do pré-sal para dar espaço às petroleiras estadunidenses].

Dilma Rousseff e Joe Biden

Essa lei de 2009 tornava a estatal Petrobras operadora-chefe de todos os blocos no mar territorial. Washington e as gigantes estadunidenses do petróleo ficaram furiosos ao perderem controles-chave sobre a descoberta da potencialmente maior jazida individual de petróleo em décadas.

Para tornar as coisas piores aos olhos de Washington, Lula não apenas afastou a Exxon Mobil e a Chevron de suas posições de controle em favor da estatal Petrobras, como também abriu a exploração do petróleo brasileiro aos chineses. Em dezembro de 2010, num dos seus últimos atos como presidente, ele supervisionou a assinatura de um acordo entre a companhia energética hispano-brasileira Repsol e a estatal chinesa Sinopec. A Sinopec formou uma joint venture, a Repsol Sinopec Brasil, investindo mais de 7,1 bilhões de dólares na Repsol Brasil. Já em 2005, Lula havia aprovado a formação da Sinopec International Petroleum Service of Brazil Ltd, como parte de uma nova aliança estratégica entre a China e o Brasil, precursora da atual organização do BRICS.

Washington não gostou

Em 2012, uma perfuração conjunta, da Repsol Sinopec Brazil, Norway’s Stateoil e Petrobras, fez uma descoberta de importância maior em Pão de Açúcar, a terceira no bloco BM-C-33, o qual inclui Seat e Gávea, esta última uma das 10 maiores descobertas do mundo em 2011. As maiores [empresas] do petróleo estadunidenses e britânicas absolutamente sequer estavam presentes.

Com o aprofundamento das relações entre o governo Rousseff e a China, bem como com a Rússia e com outros parceiros do BRICS, em maio de 2013, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio ao Brasil com sua agenda focada no desenvolvimento de gás e petróleo. Ele se encontrou com a presidenta Dilma Rousseff, que havia sucedido ao seu mentor Lula em 2011. Biden também se encontrou com as principais companhias energéticas no Brasil, inclusive a Petrobrás.

Embora pouca coisa tenha sido dita publicamente, Rousseff se recusou a reverter a lei do petróleo de 2009 de maneira a adequá-la aos interesses de Biden e de Washington. Dias depois da visita de Biden, surgiram as revelações de Snowden sobre a NSA, de que os Estados Unidos também estavam espionando Rousseff e os funcionários de alto escalão da Petrobras. Ela ficou furiosa e, naquele mês de setembro, denunciou a administração Obama diante da Assembleia Geral da ONU por violação da lei internacional. Em protesto, ela cancelou uma visita programada a Washington. Depois disso, as relações Estados Unidos-Brasil sofreram grave resfriamento.

Dilma e Lula

Antes da visita de Biden em maio de 2013, Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado chamado “Movimento Passe Livre”, relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica “Revolução Colorida”, ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento.”

FONTE: publicado no “NEO – New Eastern Outlook”. Escrito por F. William Engdahl, norte-americano, engenheiro e jurisprudente (Princeton, EUA-1966), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo, Suécia-1969). Artigo transcrito no “Patria Latina” com tradução de Renato Guimarães para a “Vila Vudu”  (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=14736).[Título e trechos entre colchetes acrescentados por este blog ‘democracia&política’].

Por F. William Engdahl / Revista americana NEO